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viernes, 23 de noviembre de 2018

Entrevistas a tres espacios anarquistas en Suramérica


Revista Abordaxe! (Galicia)

[Nota previa de El Libertario: Optamos por no hacer la traducción porque entendemos que la lengua galaicoportuguesa en que se presentan estas entrevistas es ampliamente comprensible para quien lea regularmente en castellano.]

Com o intuito de atirar uma mirada e achegar-nos aos diferentes contextos do sul do continente americano, desde Abordaxe! decidimos entrevistar a 3 colectivos que têm como nexo comum o seu funcionamento como bibliotecas anarquistas em diferentes países. Falamos sobre os seus projectos mas também sobre os desafios formulados pelos seus respectivos ambientes e a sua valoração das lutas e práticas anarquistas em cada território.

Queremos agradecer às compas da Biblioteca Anarquista Kaos (Porto Alegre, território controlado pelo Estado brasileiro), do Ateneo Anarquista de Constituición (Buenos Aires, território controlado pelo Estado arxentino) e da Biblioteca Antiautoritaria Sacco y Vanzetti (Santiago, território controlado pelo Estado chileno) o seu tempo e energia ao ter colaborado partilhando as suas impressões e respostando às nossas perguntas
 
- 1)Podem-nos contar sobre o seu projeto? Qual é o contexto em que surge, como se organizar e quais são seus objetivos?

° Biblioteca Anarquista Kaos (Porto Alegre, território controlado pelo Estado brasileiro): A Biblioteca Kaos existe desde 2015. Começou organizando o acervo e algumas atividades a partir de março desse ano e abriu a Biblioteca em Junho. Inicialmente era somente um espaço dentro da Okupa Caracol, ocupação aberta desde 2014, depois a casa toda tornouse o espaço Biblioteca Anárquica Kaos.

O momento em que surge a Biblioteca precisa ser entendido dentro da maré da conflitividade anarquista já que é ela quem a inspira. Por um lado, desde o 2013, a agitação mais violenta tinha se instalado nos protestos locais com um desrespeito mais freqüente ao poder nos protestos de rua que não foram mais a simples via democrática de demandas mas a oportunidade de atacar os ícones do Estado Capital. Isso ficou evidente nos protestos contra os mega eventos, como a vinda do Papa, a copa do mundo e os jogos olímpicos entre 2013 e 2014. Conseqüentemente a este desrespeito, o braço duro do castigo democrático perseguiu e seqüestrou pessoas nestes protestos. E a resposta foi a reaparição da Cruz Negra Anarquista no Brasil com focos no Rio de Janeiro e o inicio da CNA de Porto Alegre.

Outras repercussões importantes dos massivos protestos do 2013 e 2014, menos perceptíveis diretamente mas claramente influenciadas
pela desvinculação com a autoridade e a propriedade, foi o crescimento da cultura de okupação. A okupação foi uma prática muito mais disseminada nesses momentos.

Se bem esse era o contexto, não foi a única incitação à abertura da Biblioteca. A confrontação anárquica, ainda que pouco divulgada e debatida, mas presente, constante e diversa, e anterior ao 2013 foi o convite para que algumas pessoas se encontrassem, desde caminhadas distantes, com a vontade de espalhar essa confrontação mediante um espaço que a difundira.

Os eixos das trocas de ideias, atividades, leituras e material divulgado e editado pela Biblioteca Kaos desde 2015 foram o conflito anárquico, a violência como estratégia de luta, a insistência anticivilização, a total impossibilidade de negociação com a dominação e a solidariedade anarquista combativa. A diferença em relação às outras okupações até então abertas,foi que elas eram espaços e possibilidades de convivência coletiva e autônoma, o que já é uma afronta ao poder, a biblioteca Kaos não foi um espaço que tinha por foco a moradia ou convivência. Nossa proposta foi ter um espaço para se juntar na procura da anarquia antagônica à dominação desde as práticas e idéias mais confrontacionais, divulgando, mediante livros e leituras, a história do antagonismo local, e criando um acervo de material anarquista e anárquico sobre o tema.

No tempo em que os espaços okupados da Biblioteca estiveram abertos foram pontos de encontro não só das pessoas que chegavam e assistiam às atividades mas de uma profunda constelação de compas fora destas fronteiras. As traduções, e a leitura conjunta de cartas para e de compas seqüestrados, possibilitaram sentir os "distantes" mais próximos e conseqüentemente possibilitaram ações de solidariedade e respostas a chamados de agitação informal internacionais. Esses laços são abraços de cumplicidade que fortalecem qualquer um que decide se confrontar contra
o domínio e lutar pela liberdade. Um desses abraços iniciou-se com a tradução do livro da Conspiração das Células de Fogo Nosso Dia Chegará
que contou com as palavras dos compas da CCF, do blog Kataklisma e do Núcleo de Agitação Antiautoritária SIn Fronteras Ni Banderas, e a realização das legendas do documentário Projeto Fénix, Sobre o Regresso da Conspiração das Células de Fogo, e que foi se expandindo até as ações solidarias e o vôo de abraços e afeto para eles.

A riqueza da luta pela terra, da insistência anticivilizatoria dos povos, bandos e seres não ocidentais tem, para a proposta da Biblioteca, um ponto de encontro com a propaganda e experiências anarquistas de vários companheiros que marcaram uma diferença nestas terras. Juntas, a luta anticivilização e anarquista, são memória e atualidade do conflito contra a dominação, e isso é o que a Biblioteca procura não só resgatar, mas difundir e expandir, porque são a vertente da vida em luta pela liberdade, são as heranças que nutrem os instintos de insubmissão e rejeitamos absolutamente que esses instintos sejam continuamente apaziguados pelas nuances da dominação democrática.

°° Ateneo Anarquista de Constitución (Buenos Aires, território controlado pelo Estado arxentino): O Ateneo Anarquista de Constituición procura ser uma contribuição na luta por um mundo livre, sem amos nem escravos. Quem o mantém compromete-se a preservar o espaço e o material para a difusão das ideias acratas. Convencidxs de que o anarquismo e a anarquia são uma forma de quem não procura obedecer nem mandar se vincular e relacionar horizontal e solidariamente, reconhecemos que tanto o princípio de autoridade como quem o exerce nos nega a possibilidade do pleno desenvolvimento das nossas vidas.

O Ateneo é um espaço em que pretendemos potenciar o encontro entre companheirxs; desenvolver actividades para nos fortalecermos na luta e partilhar com outrxs as nossas práticas e ideias. O espaço onde desenvolvemos a nossa actividade foi inaugurado no início dos anos 70 pelxs companheirxs da Federação Libertária Argentina (depois de mudar a sua antiga sede da rua Humberto Primo). Foram elxs que deram início à criação do arquivo e da biblioteca.

Desde então, diferentes grupos e indivíduos contribuiram de diversas formas para a manutenção do mesmo.

°°° Biblioteca Antiautoritaria Sacco y Vanzetti (Santiago, território controlado pelo Estado chileno): Em 2002, dentro de um antigo casarão do Barrio Yungay em Santiago, surge o projecto da Biblioteca Popular Sacco y Vanzetti, trazendo à memória dois anarquistas italianos assassinados na cadeira eléctrica. Sempre com um horizonte anarquista, e sob práticas horizontais e autónomas, o colectivo e biblioteca assumem uma tendência libertária. Contudo, com o passar dos anos, vão-se afilando tensões e ideias, até se passar a assumir como anarquista/antiautoritário. Assim, o projecto passa a chamar-se Biblioteca Antiautoritaria Sacco y Vanzetti.

Já com ideias e convicções mais agudizadas, o projecto vai-se estendendo, mantendo a biblioteca, mas também reivindicando a okupação com uma ferramenta contra o mundo do poder, realizando iniciativas que contribuiam para o desenvolvimento de ideias anarquistas de libertação total e com um enfoque marcado na solidariedade antiprisional em todas as suas formas.

O modo organizativo do projecto nunca mudou e é leal aos valores que acompanharam desde sempre xs companheirxs anarquistas por todo o mundo. Um colectivo associado livremente em função de afinidades geradas por diferentes experiências e histórias, mas com um elemento instintivo de anarquia.

Depois da morte do companheiro anarquista Mauricio Morales [1], que fazia parte do projecto da biblioteca, inicia-se uma perseguição contra as actividades anarquistas no território. Assim, no dia 14 de Agosto de 2010, são feitas buscas em vários domicílios e casas okupadas, a casa onde a biblioteca funcionou durante 8 anos é encerrada, o material de propaganda é confiscado, alguns/algumas dxs integrantes do colectivo são presxs e uma companheira vai para a clandestinidade.

Com o fim do processo judicial, alguns/algumas companheirxs reagrupam-se e conseguem recuperar parte dos livros da biblioteca que foram confiscados e alguns dos exemplares do livro Mauri... La ofensiva no te olvida [2]. Durante algum tempo pôde funcionar noutro lugar. Contudo, actualmente encontramo-nos sem um espaço físico onde estabelecer a biblioteca, o que não é impedimento para continuar com o objectivo que é a colectivização de ideias e práticas anarquistas.

Há quase um ano escrevemos e editámos o livro Cronaca Sovversiva: Una mirada a la anarquía insurreccional de 1900 en Estados Unidos, iniciativa que traz à memória companheirxs anarquistas do século passado, que nos piores cenários foram capazes de gerar laços, redes e comunidades anarquistas de luta sob dinâmicas de apoio mútuo, de solidariedade e de companheirismo.

Ao longo dos anos, mantivemo-nos focadxs na propaganda antiautoritária, na colectivização do conhecimento anarquista e na solidariedade antiprisional.

- 2)Qual vocês acham que é a situação atual das idéias e práticas anarquistas no seu território? Que papel vocês acham que pode e deve desenvolver nos próximos tempos?

° Para compreender as idéias e práticas anarquistas atuais no Brasil consideramos necessário situá-las a partir do fim da ditadura militar, que governou de 64 ate meados dos anos 80, "findando" com uma "abertura lenta, gradual e segura". É a partir deste contexto que se germina o que poderíamos chamar de atualidade anarquista.

Nos últimos anos da década de 70, com o fim da censura e a anistia, 1979, próximo ao fim da ditadura militar, a "redemocratização", ressurgem focos do fogo da anarquia no Brasil. Destacamos o jornal Inimigo do Rei (1977-1988), publicação anarquista de iniciativa dos estudantes baianos. Foi um jornal, não somente autogestionado, mas editado rotativamente por coletivos anarquistas da Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Pernambuco ... E isso, foi uma gigante amostra de vontades libertarias na época e um importante referente na difusão de idéias e práticas anarquistas.

Ainda no fim da década de 70 e ao longo dos anos 80, a contracultura punk, toma vida através da juventude periférica de São Paulo e outras capitais, o que traz uma força vigorosa, e novas idéias e práticas anarquistas. Destacamos que a presença nas ruas, as bandas e suas posições, assim como a difusão de fanzines espalham estas novas formas de vivenciar a anarquia. Nas fortes tensões da saída da ditadura militar, com greves, piquetes, agitações massivas operárias, a proposta anarcosindicalista volta à cena com os Núcleos Pró Confederação Operária Brasileira, espalhados de norte ao sul.

É também nestes novos ares que reabre o Centro de Cultura Social em abril de 1985 na cidade de São Paulo tornando-se um importante referente do anarquismo no Brasil. O CCS nasceu em 1933. Com as fortes repressões aos anarquistas nos anos 30 a única possibilidade que eles encontraram em manter um espaço público aberto foi a criação de uma associação formal e legalizada, o CCS. Promovendo farta atividade teatral, conferências diversas, virando um destacado local anti-integralista e anti-fascista, reduto dos anarquistas. Com a ditadura de Getúlio Vargas, de 1937, o Estado Novo, o CCS fecha, reabrindo assim que passa esta tormenta repressiva em 1945, fomentando novamente idéias e praticas anarquistas ate a ditadura militar de 1964. Ou seja o CCS é a única expressão que percorre desde as antigas idéias e práticas anarquistas até a atualidade.

Na década dos 90, funda-se a Federação Anarquista Gaúcha, diretamente influenciada pela experiência da Federação Anarquista Uruguaia, no território fronteiriço com o Rio Grande do Sul, também como conseqüência da delimitação de diferenças nas procuras do anarquismo durante anteriores encontros anarquistas na cidade de Porto Alegre (AnarcoSul). A FAG virou um referente importante do anarquismo organizativo até a atualidade, influenciando muitas pessoas que se aproximam na procura pelo anarquismo. Dentro desta perspectiva formam a Coordenadora Anarquista Brasileira junto com outros coletivos, federações e similares.

Uma significativa parte dos punks que se identificavam com a anarquia, formaram várias e particulares formas de organização anarkopunk. Destas vivencias, intercâmbios e vontade de coordenação surge à Internacional Anarkopunk, a partir dos sucessivos encontros, o primeiro dos quais aconteceu em Montevidéu. Esta multiplicidade de idéias e práticas anarquistas vinculadas à organização anarkopunk inicia-se na década de 90 e propaga sua agitação na década do 2000 seguindo vivo.Desde os anos 90 com experiências como Kaasa e Payol, ambas em Curitiba, a cultura okupa se expandiu nos anos 2000, surgindo movimentações okupas, com okupações em Campinas, Atibaia, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Aracruz, Pelotas, Blumenau, Fortaleza, Natal ... que disseminam idéias e práticas que vão em choque direto contra o pilar da dominação econômica: a propriedade. Ao mesmo tempo geram as possibilidades reais de convivência coletiva e autônoma. Práticas que continuam existindo nas cidades dando seu 171, vivendo como uma Viúva Negra, galopando num Korr-Cell.

Com a força dos protestos do 2013 e contra a Copa, aparece "ao vivo" a raiva contra a materialidade do domínio econômico e político. Então, as práticas e idéias anarquistas se empapam do debate sobre a violência. O debate centrou-se nessa cara do confronto nas ruas que ficou mais visível devido à magnitude dos protestos do ano de 2013 e a espetacularidade de tudo o que tinha a ver com a Copa do Mundo (aproveitamos para mandar nosso mais forte braço aos compas na Rússia que combatem à Copa do mundo dentro e fora das gaiolas do Estado). Mas isso não quer dizer que este tipo de combatividade tenha surgido só então, muito pelo contrário. Um dos primeiros eventos de agitação abertamente confrontacional contra a ordem estabelecida nas últimas décadas aconteceu na celebração dos 500 anos da colonização. Quando multidões atacaram o ícone da celebração, relógios comemorativos instalados pela rede Globo (o maior conglomerado de comunicações no Brasil), em todas as capitais do Brasil.

A cara hostil da anarquia também teve e mantém uma semente profunda. Os primeiros ataques que podemos rastrear como evidentemente anárquicos, dentro desta atualidade, foram uma bomba no Mac Donald ́s no Rio de Janeiro e o incêndio de três carros de luxo num bairro nobre de Porto Alegre em 2008. Em 2009, provavelmente dentro de uma continuidade de ataques similares, porém não rastreáveis, inicia-se a reivindicação "pública" das ações com o ataque com tinta ao consulado da Argentina em Porto Alegre (em solidariedade com Freedy, Juan e Marcelo, então presos na Argentina e seqüestrados até agora pelo estado chileno) e continua dois anos mais tarde com o ataque ao consulado do Chile em Solidariedade com Luciano Pitronello (Tortuga) na mesma cidade. As idéias e práticas anárquicas mais antagônicas começam a voar respondendo tanto a motivações de contra ataque à dominação local quanto em resposta a chamados internacionalistas, em solidariedade ou em coordenação.

Uma das trilhas da caminhada agressiva em nome da liberdade foca-se nas lutas antiespecistas e pela terra, diretamente influenciadas pelos chamados a formar frentes de luta informais. A Frente de Libertação Animal "aparece" em 2005 quando reivindica uma ação de libertação de vários macacos do minizoo em Porto Alegre. A partir dai, libertações, as vezes massivas de animais, ataques a laboratórios particulares e de universidades, e sabotagens a vários centros de exploração e extermínio animal não tem tido pausa até agora. Na área de São Paulo, garagens de carros de luxo e a concessionária da Land Rover foram atacados, no 2010, sendo a Frente de Libertação da Terra quem reivindicou um desses ataques.

Outro importante foco de idéias e práticas anarquistas são as Feiras do Livro Anarquista. A Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre, junto com a de São Paulo, é das mais antigas nos territórios ocupados pelo Estado Brasileiro e ocorre desde 2010. Esse é um movimento que tem se expandido por Salvador, Curitiba, Belo Horizonte e recentemente, no 1°de maio de 2018 o Rio de Janeiro teve sua primeira Feira do Livro Anarquista na zona leste. Mas, esta caminhada teve seu primeiro impasse o ano passado. A Feira do Livro Anarquista em Porto Alegre do 2017, a oitava, foi cancelada, devido a que a Operação Érebo invadiu espaços e moradias de vários anarquistas dois dias antes da atividade de inauguração [1]. De qualquer forma, anarquistas como somos, sabemos que confrontos, incomodações e contragolpes da dominação são o pão de cada dia quando um se para de frente ao mundo procurando viver nele em anarquia e liberdade.

Este panorama das idéias e práticas anarquistas e anárquicas ficaria incompleto se não enxergamos para além do horizonte mais imediato. Várias iniciativas autodenominadas libertarias ou anarquistas tem procurado formas de convivência por fora da órbita urbana. Entre a proximidade com a terra e o escape do modo de vida urbano, estas experiências são um foco especifico de difusão de idéias e práticas anarquistas ainda que pouco se tem difundido ou convidado ao debate sobre elas, cabe também provocar o debate sobre se estas são propostas anticivilizatorias ou de uma rejeição à vida nas cidades.

Resumindo, nas ruas, em algum protesto, em okupações, bibliotecas, restaurantes veganos, espaços sócias, em tendências mais organizativas, ou em tendências que procuram o conflito, em jornais, em programas de rádio, encontram-se práticas e idéias anarquistas. Há uma diversidade com histórias próprias, rica, e provavelmente fecunda. O barco está na água!!!

E o que as idéias e práticas anarquistas podem desenvolver nos próximos tempos, para nós é simples: a absoluta confrontação contra toda forma de dominação.

°° Neste momento, existem vários grupos e indivíduos de diferentes tendências na região, o que torna um pouco complexo resumir estas ideias e práticas em algo pontual.

Podemos dizer que, há alguns anos, uma das lutas nas quais xs anarquistas têm maior presença e constância é no acompanhamento da resistência do povo mapuche. O Estado argentino e o chileno deslocaram-no historicamente dos seus territórios e continuam a fazê-lo hoje em dia, não só com o objectivo de obter essas terras para os empresários, como também para explorar os territórios da Patagónia argentina, ricos em minerais, hidrocarbonetos, água doce etc. Nos últimos anos, esta luta foi-se tornando mais severa, tendo muitas ocupações de território da comunidade mapuche sido despejadas pelas mãos de empresários ou do Estado. Os Mapuches têm sido perseguidos e presos, como é exemplo o caso de Facundo Jones Huala, preso e com uma sentença de extradição para o Chile que deve ser cumprida nas próximas semanas. Alguns também foram assassinados, sendo um exemplo o assassínio de Rafael Nahuel, um jovem mapuche que resistia a uma ocupação de território ante a investida de grupos de forças especiais da Prefeitura Naval.

Dessa mesma forma, há um ano, o companheiro anarquista Santiago Maldonado estava a apoiar activamente uma acção contra a tomada de território quando foi sequestrado e assassinado pelas forças da gendarmaria. É inevitável determo-nos neste ponto para dizer que esta morte às mãos do Estado e do capital nos levou neste ano não só a enfrentar semelhante brutalidade, como também a nos reafirmarmos. O assassínio do nosso companheiro foi penosamente manipulado pelos meios de comunicação e pelas diversas forças políticas, o que nos manteve muito presentes na acção e na propaganda.

Neste contexto, o governo levou avante uma série de medidas claramente ofensiva para o povo. Isso gerou uma série de protestos massivos e confrontos com a polícia e a gendarmaria. Houve centenas de detenções e muitas pessoas foram processadas, estando a aguardar julgamento. Entre estas está Diego Parodi, um companheiro anarquista detido no protesto de 14 de Dezembro do ano passado. Depois de oito meses, continua preso na prisão de Marcos Paz.

Este contexto exige que tenhamos uma maior organização e eficácia quanto à propaganda, aos critérios em comum e à acção de rua. Vemos diariamente como o braço armado do Estado defende xs privilegiadxs, mas isso também nos dá a firmeza e a temperança para continuar a expor as nossas ideias e práticas à volta dos nossos espaços e dos nossos bairros. Continuamos a consolidar laços, a tecer afinidades, a congregar forças.

°°° Cremos que não há uma receita sobre como se deve desenvolver a tensão anarquista e não queremos ser nós a dizer como se têm de fazer as coisas ou os caminhos que xs companheirxs devem tomar. Que cada colectivo e indivíduo mantenha os seus valores e assuma coerentemente as suas decisões a cada passa dado é a melhor propaganda e o melhor contributo qualitativo para as sendas de confrontação contra a máquina dominadora do inimigo.

O papel histórico da anarquia é negar qualquer forma de autoridade onde quer que estejamos, em qualquer cenário em que nos decidamos desenvolver e propagar o elemento antiautoritário.

A situação actual das ideias e práticas antagónicas ao mundo do poder é como um fractal... uma figura que se repete com diferentes escalas e matizes. Cada momento tem os seus próprios ritmos e pulsões. Actualmente, para alguns/algumas brilha a superação da ideia anarquista, porque a entendem como um dogma, afirmando, portanto, que é necessário destrui-la e por todos os meios possíveis criar tendências que soem muito mais radicais.

Também há mundos que não se cruzam, gente que decidiu levar a teoria anarquista para a academia e afastar-se dxs companheirxs das novas gerações que hoje estão nas ruas.

Porém, apesar de tudo o que possa ser dito, continua a haver vontades dispostas a agudizar as suas ideias e práticas, levando-as a lugares onde há uns anos era impensável que se pudesse erguer uma energia anarquista tão elevada. A memória dxs companheirxs mortxas acabou por ser uma ponte que dá vitalidade – paradoxalmente – ao movimento antiautoritário. Que alguns/algumas companheirxs hoje recordem quem não conheceram é uma demonstração gráfica da importância que as ideias e as práticas contra a dominação hoje continuam a ter.

A solidariedade antiprisional continua a ter uma presença importante na prática anarquista. Até há uns meses, a quantidade de presxs de tendência anarquista era importante... actualmente, o número reduziu-se, já várixs companheirxss cumpriram pena. Porém, a outrxs chovem-lhes sentenças. O caso de Juan Flores é um dos mais preocupantes. Há uns meses foi condenado a 23 anos de prisão sob a nova figura do terrorismo individual, elemento da inquisição democrática que se vai instalando neste território.

Resumidamente, persiste uma prática de propaganda e agitação contra o mundo do poder, uma solidariedade antiprisional, e há esforços importantes para criar pontes capazes de unir diferentes gerações, como também o aparecimento de tendências cada vez mais radicais no papel, que venham derrubar tudo o que para elxs signifique um dogma... contudo, as vontades de confrontação vão sendo encontradas nos lugares mais inesperados e configuram a inesgotável ameaça contra as lógicas da autoridade.

- 3) Quais são os principais problemas e contradições enfrentados pelas práticas anarquistas no seu território e que críticas podem ser feitas sobre seu desenvolvimento histórico?

° Muitas vezes alguns anarquistas acabam referenciando seus parâmetros de luta a partir dos parâmetros instituídos como legalidades, direitos, reformas possíveis e demandas populares. Propostas de um tipo de poder ou empoderamento, confundem práticas muito antigas e em essência anarquistas como a autogestão ou as decisões coletivas, e geram uma contradição profunda no coração do anarquismo, que é tentar unir o poder (popular) com a anarquia. Um dos problemas que trazem estas contradições é a difusão de uma idéia de anarquismo que a través desses parâmetros de luta toleraria o estado e seus pilares essenciais: os direitos, a cidadania e a democracia.

Os resultados podem ser fatais como aqueles "anarquistas" que assumiram um cargo de governantes públicos, o posto de vereador, em Alto Paraíso (Goiás) mas, como o fizeram coletivamente, defenderam seriamente que era uma prática anarquista baseada na proposta federalista de Proudhon. As heranças dos encontros com posições esquerdistas podem ter fomentado este tipo de contradições assim como a ausência de críticas oportunas e diretas.

Outro problema, mas não uma contradição, é a inexistência de debate entre tendências anarquistas. O único espaço que abre as portas para este tipo de encontro é a Feira do Livro Anarquista. De nenhuma forma chamar a atenção sobre esta falta de debate visa uma unidade ou coordenação, mas a possibilidade de ter ciência das diversas caras da procura por anarquia e suas posições ao mesmo tempo que o reconhecimento de sua existência. Muitos anarquistas e coletivos terminam por nem sequer falar das outras tendências, e isso é uma omissão que pareceria querer apagar da historia anárquica práticas e idéias não compartilhadas o que empobrece e minimiza a diversidade da luta pela anarquia.

Não se pode apresentar tão resumidamente um balanço crítico sobre o desenvolvimento histórico do anarquismo nestas terras, porém é possível e necessário apresentar um eixo profundo de críticas a este desenvolvimento: a ausência de reflexões sobre o abraço entre as lutas pela anarquia e as lutas contra o projeto civilizador[2].

Resulta difícil aceitar que dentro das várias experiências, coletivos, espaços e vivencias anarquistas, nestas terras, não existissem companheiros de coração e corpo não colonizados, incivilizados. Resulta também difícil acreditar que companheiros anarquistas, amantes da liberdade e com ódio da opressão e autoridade não enxergassem outras formas de vida coletiva como formas reais de vida diferente à dominação.

Somos anarquistas num continente colonizado e somos herdeiros de lutas que resistiram e se confrontam contra o projeto dessa colonização por nos civilizar. Mas, dificilmente isso se debatia assim no desenvolvimento histórico do anarquismo, porém era um sentimento presente que claramente se mostrou vigente e permanente na rejeição á comemoração dos 500 anos. O anarquismo do século XX foi se desenvolvendo principalmente nos contextos urbanos e deixou poucos, e difíceis rastos de suas aproximações das coletividades que há séculos resistiam a dominação[3] desde lógicas que não cabiam nas cidades. A centralidade da luta de classes foi abrindo mais a cisão entre as lutas anticivilização e as lutas anarquistas, ainda quando estas duas explodem dentro dum instinto fundamentalmente anárquico.

Um ponto que requer atenção e uma releitura histórica profunda, é a forma em que os contatos entre lutas não ocidentais e pela terra chegavam até os ouvidos dos companheiros anarquistas, e como, na atualidade essas lutas chegam até o debate político urbano. Sempre lançando estas idéias como propostas para aprofundar, acreditamos que muitas das lutas dos povos nativos e as lutas pela terra chegam até a agitação anarquista mediadas, quase traduzidas. Na luta pela terra, que não é igual à dos povos nativos, encontramos alguns exemplos que querem abertamente deter o avanço civilizador em defesa das suas áreas de vida, e estas chegam até a cidade geralmente traduzidas à linguagem esquerdista pois são eles (os esquerdistas) que, por sua metodologia de militância, chegam até muitas delas. Nas lutas dos povos nativos a mediação, no território controlado pelo estado brasileiro, é em boa parte do Conselho Indigenista Missionário[4]. Ainda quando se reconhece o ímpeto esquerdista e a tendência menos dura da Igreja, temos que apontar que possibilitam uma visão das lutas nativas traduzidas a demandas e direitos exigidos ao Estado e terminamos por não nos encontrar totalmente com elas pelas diferenças obvias com estas traduções e seus intermediários. A critica ao desenvolvimento histórico do anarquismo é a dificuldade que deixaram para perceber reflexões de encontro com as lutas anticivilização, idéias ou debates, o que teria dado todo um teor absolutamente diferente ao anarquismo local.

Somos, em nossas histórias locais e individuais, parte de um longo horizonte de experiências de vida e luta pela terra e liberdade com suas próprias conflitividades mas poucas vezes enxergamos isso já que a cidade e seus modos de vida centram os holofotes do anarquismo[5]. Só recentemente, que a luta contra a civilização começou a se debater desde o anarquismo e a procura da anarquia, muitas vezes também desde propostas alheias aos povos não civilizados mas, surgiram experiências e propostas confrontacionais profundamente anticivilizatorias que questionaram a aparente omissão sobre nossa herança incivilizada.

O coração deste problema foi procurar o anarquismo querendo entender ele a partir de parâmetros políticos similares a outras propostas políticas deste projeto civilizador e esquecer dos antagonismos mais profundos, aqueles que emergem do impulso anárquico, do principio de rejeição à toda autoridade e que historicamente vem se opondo à toda forma de domínio ainda quando o inimigo pareceria imbatível.

Para finalizar, mandamos nosso abraço forte, cúmplice e carregado de anarquia para vocês compas da Editorial Anarquista Abordaxe. Que as fronteiras nunca sejam um impedimento para nossos encontros.

°° Durante muitos anos, o anarquismo na Argentina dedicou as suas forças a sobreviver, a permanecer, não tanto por preguiça ou desleixo, mas por ter de resistir às diferentes vagas de governos ditatoriais. Uma vez começada a etapa democrática, a tarefa dxs anarquistxs recaiu sobre os ombros de gerações novas, sem ter muito contacto com companheirxs mais velhxs ou espaços que pudessem continuar com os anos. Apesar disso, foram-se construíndo espaços, critérios, práticas baseadas em diferentes experiências ou ideias. Algumas estão ainda hoje em elaboração e prática.

Outra das dificuldades enfrentadas nesta região é a incapacidade de gerar maior adesão à ideia. Isso não é tanto responsabilidade dxs companheirxs, mas algo que se deve às características políticas e sociais da região. A preponderância dos grandes grupos políticos, um com um discurso defensor da burguesia e o outro do chamado campo popular, geraram um forte impedimento da difusão anarquista. O campo «popular» está viciado pelas políticas do Estado social e pela assistência estatal, gerando uma domesticação em certos sectores da população, tomando como prática democrática o cidadanismo mais abjecto. O que é certo é que o anarquismo não está a conseguir encontrar formas de encharcar o tecido social, já que as práticas políticas a que a população se habituou nesta região andam a par com as práticas partidárias clássicas, que já têm um efeito e reproduzem sempre o sistema de dominação imperante. E tudo o que escape a essa norma é visto com desconfiança.

O anarquismo pôde resistir a vários golpes que procuravam a sua destruição, partindo de princípios do século passado, até há 40 anos. O que torna patente que aquelas contradições e problemáticas não são próprias porque ainda se procuram alternativas, traçando caminhos, acumulando experiências e projectando o porvir. É uma ideia que tem sido sistematicamente negada e apagada, e isso acrescenta complexidade à nossa realidade. Ainda assim, vemos os avanços desta luta, por mais lentos que sejam. Vemos que estão a amadurecer, que apresentam uma grande firmeza e nos potenciam para enfrentar o porvir.

°°° Acontece que um dos principais problemas quanto à presença anarquista contemporânea surgiu depois da investida repressiva de 2010. É importante saber dignificar a própria história e, quando a conflitualidade aumenta, não apagar com o cotovelo o que foi escrito com a mão em tempos de acalmia. É, sem dúvida, uma constante histórica o retrocesso de muitxs quando a grandiloquência judicial se faz ouvir. Desse ponto de vista, não nos surepreende, mas também não queremos que se torne algo normal.

Estamos convencidxs de que está nas nossas mãos ser capazes de ultrapassar qualquer obstáculo, persistir no caminho eligido e, assim, anular a jogada do inimigo. Poderão encerrar-nos, afastar-nos dxs nossxs companheirxs, dificultar os nosso projectos, mas não derrotar-nos. Só depende de nós.

Nesse sentido, há um retrocesso quando começamos a interiorizar palavras e conceitos que sempre rejeitáramos. Aludir à montagem, à inocência, permitir o desenvolvimento dos teatros jurídicos tal como estão pensados, goste-se ou não disso, acaba por afirmar a cultura do poder. Assim, vão-se relativizando palavras e certos caminhos transformam-se de súbito em cenários mais do que em campos de guerra.

Quando novxs companheirxs vão chegando ao movimento anarquista, olham para o que imediatamente xs antecedeu. Se aquilo é «uma montagem», é mais ou menos óbvio que o discurso irá sendo visto como normal. Desse forma, expande-se o vitimismo e há um retrocesso.

Outro elemento importante a ter em consideração no momento de enfrentar a realidade anarquista neste território é a inegável lacuna geracional que se manifesta em vários aspectos do difuso meio antiautoritário.

Vemos que há dois pólos bem definidos. Por um lado, xs que não persistiram e foram perdendo o interesse na construção de ideias e de valores antagónicos ao Poder, Outrxs que abandonaram directamente o caminho anarquista, situação que vai gerando um vazio de experiências e de histórias para quem vem com sangue novo para continuar a impulsionar um projecto de libertação total. Pelo outro, xs que se incoporam nesse caminho sem inquietudes sobre o que se passava há anos atrás... há poucos anos atrás, pensando que tudo nasce com elxs e que não há história importante que analisar.

Apesar destas realidades, e como dizíamos nas outras respostas, continua a haver uma construção inextinguível de convicções antagónicas à hostilidade da ordem hierárquica. Há contribuições inegáveis na construção de pontes que vaiam ligando experiências, de forma desierarquizada e horizontal, não com um fim historicista ou anedótico, mas com verdadeiro interesse na contribuição para a intensificação do conflito...

[Publicado originalmente en la revista Abordaxe! # 7, Santiago de Compostela, otoño 2018. Número completo accesible en http://abordaxe.org/wp-content/uploads/2018/11/Abordaxe-web-definitivo.pdf.]


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